Avaliação
Psicoeducacional
O desenho como
estratégia de avaliação
Profa.
Mari Angela Calderari Oliveira
Curitiba,
março/2014
"Antes
eu desenhava como Rafael,
mas precisei de toda uma existência
para aprender a desenhar como as crianças".
(Picasso)
mas precisei de toda uma existência
para aprender a desenhar como as crianças".
(Picasso)
O desenho
é a primeira manifestação da escrita humana, o significado de desenho em grego
é traçar, arranhar, redigir, dentre outros.
Podemos considerar que o desenho é primeira
forma de expressão usada pelas crianças. "Garatujas",
"girinos", "sóis", desenhos "transparentes", e
cada vez mais próximos da forma que podemos chamar de "real", são as
representações de como a criança lê o mundo, enxerga a vida, expressa o que
sente.
À medida que a criança vai
sendo alfabetizada, a escola se encarrega de afastá-la desta forma de expressão
e ela, como muitos de nós, vai dizendo que "não sabe desenhar".
Na avaliação psicoeducacional,
o desenho é uma técnica capaz de revelar aspectos importantes no sentido de se
conhecer a funcionalidade de aprendizagem
Segundo o dicionário Aurélio
(2009), desenho é "representação de formas sobre uma superfície, por meio
de linhas, pontos e manchas. A arte e a técnica de representar, com lápis,
pincel e etc., um tema real ou imaginário, expressando a forma.
Pela ação do desenho se é capaz de demonstrar o nível de desenvolvimento funcional,cognitivo,afetivo,social e cultural. No que diz respeito a criança,geralmente, desenhar é algo prazeroso , e à medida que ela é estimulada a fazê-lo e o faz com algum sentimento, sua comunicação gráfica se torna mais clara e tem mais a dizer sobre seu ser.
A
evolução do desenho na criança, segundo Thereza Bordoni em seu artigo publicado
em http://www.profala.com/arteducesp62.htm
O desenho como possibilidade de brincar, o desenho
como possibilidade de falar de registrar, marca o desenvolvimento da infância,
porém em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio. Estes estágios
definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças,
apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Esta maneira
de desenhar própria de cada idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para
cultura.
Luquet
Distingue Quatro Estágios:
1- Realismo
fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim ao período chamado
rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação
descobre por acaso uma analogia com um objeto e passa a nomear seu desenho.
2- Realismo
fracassado: Geralmente entre 03 e 04 anos tendo descoberto a
identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma.
3- Realismo
intelectual: estendendo-se dos 04 aos 10-12 anos, caracteriza-se
pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que
sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista (perspectivas ).
4- Realismo
visual: É geralmente por volta dos 12 anos, marcado pela descoberta
da perspectiva e a submissa às suas leis, daí um empobrecimento, um enxugamento
progressivo do grafismo que tende a se juntar as produções adultas.
Marthe
Berson distingue três estágios do rabisco:
1 - Estágio
vegetativo motor: por volta dos 18 meses, o traçado e mais ou menos
arredondado, conexo ou alongado e o lápis não sai da folha formando turbilhões.
2 - Estágio
representativo: entre dois e 3 anos, caracteriza-se pelo
aparecimento de formas isoladas, a criança passa do traço continuo para o traço
descontinuo, pode haver comentário verbal do desenho.
3 - Estágio
comunicativo: começa entre 3 e 4 anos, se traduz por uma vontade de
escrever e de comunicar-se com outros. Traçado em forma de dentes de serra, que
procura reproduzir a escrita dos adultos.
Em Uma
Análise Piagetiana, temos:
1 - Garatuja:
Faz parte da fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da fase pré-operacional
(2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é
inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A cor tem um papel
secundário, aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há intenção
consciente. Pode ser dividida em:
• Desordenada: movimentos amplos e desordenados.
Com relação a expressão, vemos a imitação "eu imito, porém não
represento". Ainda é um exercício.
• Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração do traçado; interesse pelas formas (Diagrama).
• Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração do traçado; interesse pelas formas (Diagrama).
Aqui a expressão é o jogo simbólico: "eu
represento sozinho". O símbolo já existe. Identificada: mudança de
movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribuem nomes, conta
histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis,
radiais e mandalas. A expressão também é o jogo simbólico.
2 - Pré-
Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da
relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos
são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras
relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana
torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo,
inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não
há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da
expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".
3 - Esquematismo:
Faz parte da fase das operações concretas (7 a 10 anos). Esquemas
representativos, afirmação de si mediante repetição flexível do esquema;
experiências novas são expressas pelo desvio do esquema. Quanto ao espaço, é o
primeiro conceito definido de espaço: linha de base. Já tem um conceito
definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como:
exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aqui existe a descoberta
das relações quanto a cor; cor-objeto, podendo haver um desvio do esquema de
cor expressa por experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico
coletivo ou jogo dramático e a regra.
4 - Realismo:
Também faz parte da fase das operações concretas, mas já no final desta fase.
Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é
descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana
aparece o abandono das linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e
formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o
abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no
Esquematismo como no Realismo, o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e
regras existiram.
5 - Pseudo
Naturalismo: Estamos na fase das operações abstratas (10 anos em
diante)É o fim da arte como atividade espontânea. Inicia a investigação de sua
própria personalidade. Aparecem aqui dois tipos de tendência: visual (realismo,
objetividade); háptico(relativo ao tátil) ( expressão subjetividade) No espaço
já apresenta a profundidade ou a preocupação com experiências emocionais
(espaço subjetivo). Na figura humana as características sexuais são exageradas,
presença das articulações e proporções. A consciência visual (realismo) ou
acentuação da expressão, também fazem parte deste período. Uma maior conscientização
no uso da cor, podendo ser objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como:
"eu represento e você vê" Aqui estão presentes o exercício, símbolo e
a regra.
E ainda alguns psicólogos e pedagogos, em uma
linguagem mais coloquial, utilizam as seguintes referencias:
• De 1
a 3 anos
É a idade das famosas
garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora
os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados
pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com
o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas
independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que
surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.
• De 3
a 4 anos
Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
• De 4 a 5 anos
É uma fase de temas
clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis,
veículos e animais, varia no uso das cores, buscando um certo realismo. Suas
figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a
distribuição dos desenhos no papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no
alto da folha. Aparece ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a
emprestar características humanas a elementos da natureza, como o famoso sol
com olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.
• De 5 a 6 anos
Os desenhos sempre se
baseiam em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem
vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas
variam e o fato de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de
desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.
• De 7 a 8 anos
O realismo é a marca desta fase, em
que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão
uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas
deixam de desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.
Algumas
técnicas de desenho utilizadas na
Avaliação psicoeducacional em diferentes contextos de aprendizagem
No
contexto institucional
Técnicas projetivas psicopedagógicas
(VISCA, 1991)
Vínculos escolares – Planta
da Sala de aula, Parelha ou Dupla Educativa, Eu e meus companheiros
Desenho livre
No
contexto da sala de aula
Desenho livre
Vínculos escolares - Planta
da Sala de aula, Parelha ou Dupla Educativa,
Eu e meus companheiros
Atividade pedagógica –
qualquer desenho que esteja incluído no contexto dos conteúdos pedagógicos.
No
contexto clinico-
Técnicas projetivas psicopedagógicas
(VISCA,1991)
Vinculo consigo mesmo
Vinculo familiar
Vinculo escolar
Desenho livre
Cuidados
ao analisar o desenho
É muito importante que o
profissional que utilize o desenho , seja em qualquer contexto de aprendizagem,
considere-o a partir de um contexto próprio do sujeito que desenha. Isoladamente
o desenho não traduz a realidade da projeção que lhe é inerente, portanto é
fundamental que na leitura psicoeducacional da aprendizagem a partir do
desenho possamos considerar.
Considerar vários desenhos
ao longo de um tempo
Considerar outras tarefas
que exigem a ativação de outros processos mentais diferentes daqueles exigidos
pelo desenho
Analisar aspectos psicopedagógicos
não significa analisar estruturas da personalidade
Considerar a necessidade do
sigilo em relação aos desenhos
Contextualizar o desenho na
historia de vida do sujeito analisado
Sempre que possível pedir
para o sujeito fale sobre seu desenho
No contexto da sala de aula
considerar principalmente os aspectos pedagógicos evidenciados no desenho
Aspectos
a serem observados nos desenhos
Esquema corporal/imagem
corporal
Orientação espacial
Orientação temporal
Uso das cores
Função simbólica
Qualidade dos vínculos
Dimensões do desenho
Expressão do traçado
Criatividade/originalidade
Repetição de um mesmo tema
Coordenação viso motora
Aspectos sociais
Estrutura cognitiva
Os links abaixo trazem mais
informações sobre o desenho como estratégia técnica no diagnostico psicopedagógico.
Referencias
BEDARD,
N. Como interpretar os desenhos das
crianças. São Paulo:Ed. ISIS,2007.
CARNEIRO, M.ªB. O espaço e o tempo de brincar: um tesouro a
ser preservado. Abc educativo. São Paulo: 2002.
GREIG, P. A criança e seu desenho. O nascimento da
arte e da escrita. Porto Alegre: Artmed, 2004.
LE BOULCH, J.
(1986) . O desenvolvimento psicomotor:
do nascimento atéos 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas.
MEREDIEU,F. O desenho infantil. São Paulo:Ed.
Cultrix, 2008.
PIAGET,
J. A Formação do Símbolo Na Criança.
Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
SANS,P.T
C. Pedagogia do desenho Infantil.
Campinas:Ed. Alínia, 2007.
SANTOS, S. M. P. dos. O Lúdico na
Formação do Educador. Vozes: Petrópolis, 1997.
VISCA,
J. Técnicas projetivas psicopedagógicas e pautas
gráficas para sua interpretação: ED. Visca e Visca, 2013.
VYGOTSKY, L.S. A
Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
WEISS, M.L.Psicopedagogía Clinica- uma visao diagnostica
dos problemas de aprendizagem escolar. RJ: DP&A, 2003.
WECHSLER,S.M. e NAKANO,T.C. (orgs) O desenho infantil , forma de expressão cognitiva, criativa e emocional.
Saõ Paulo:Casa do Pscicologo, 2012.
WINNICOTT, D. M. O
brincar e a realidade. Rio de Janeiro, Imago, 1975.
Créditos para: Profa. Mari Angela Calderari Oliveira
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